24.6.08

Gostos são gostos

Não se deve encarar só aqueles que elogiam o nosso trabalho, mas também aqueles que o críticam de uma forma fundamentada.
Esta foi a crítica de um elemento do nosso grupo.

"Tenho a dizer-vos que é lamentavel que um grupo de jovens com tanta vitalidade tenha relaizado um trabalho tão básico. A complexidade do texto foi completamente dilacerada, o material em cena completamente despropositado, uma vez que foi mal aproveitado.
Teatro não é apenas dogmas e regras...há que ser louco e inspirado.
Lamentável e vossa presunção."


Esta foi a crítica de um amigo do pessoal do Arte Viva à nossa crítica no blogue deles.

"É muito triste que sob a capa do anonimato se escrevam baboseiras.
Não é difícil de descobrir quem terá escrito isto: alunos que estiveram em Viseu (nomeadamente de Tondela) e andaram a fazer comparações infantis. Cada grupo realiza a sua encenação com uma estética específica. Se não conseguem respeitar isso é porque estão no local errado, pois o teatro é o espaço do colectivo, da aceitação da diferença, de outros olhares sobre o mundo e as pessoas.
E mais triste fico pois quem escreve é alguém que muito pouco sabe de teatro. Talvez tenha feito uma formação, agora uma peça e já são o centro do mundo. Mais calma rapazes! A proposta da Arte Viva é singular, é a sua e deve ser criticada nos seus elementos cénicos com estudo, com saber, não com borbulhas e hormonas."

Quem escreve isto devia saber que é de livre arbitrariadade gostar ou não de um espectáculo.





Crítica de Pedro Marques

"É comum pensar-se que os trabalhos mais importantes e interessantes são normalmente realizados pelas pessoas mais profissionais, habilitadas e experientes. Mas no que diz respeito ao teatro, em Portugal (e acho que em outros países também deve acontecer uma coisa semelhante), o contrário é ocasionalmente verdade. Foi o que aconteceu há uns doze, treze anos com o grupo "4º Período - o do prazer", que lançou nomes do teatro português como Rita Durão, Tonan Quito, Cláudia Andrade (que trabalhou no ACERT em Tondela, será que foi ela que levou este bichinho do teatro de jovens para lá?), José Álvaro ou Fernando Ribeiro, e agora, pelo menos, está a acontecer com um grupo de jovens de Tondela, os "Na Xina Lua".
Neste fim de semana representaram a peça da autora italiana Letizia Russo, Fim de Linha, na Culturgest, integrado num dos festivais mais recentes e importantes do nosso país dedicado à escrita teatral para jovens: Panos - Palcos Novos Palavras Novas. O Festival congrega escolas de vários pontos do país que escolhem uma de entre quatro peças para levar à cena e que depois apresentam numa selecção final que se desenrola nos palcos da Culturgest em Lisboa.
Depois de ver a peça destes jovens, de 15-16 anos de idade, com uma energia e disponibilidade que fazem inveja a grande parte dos actores profissionais portugueses, demonstrando uma urgência e inteligência fora do vulgar, só posso pensar que, realmente, o teatro só não é mais frequentado em Portugal por inércia das pessoas, sim senhor, mas também porque os profissionais que habitam os nossos teatros são muitas vezes manifestamente incompetentes e preguiçosos. Para quem viu estes jovens a representar no sábado era claro que há pessoas que sabem fazer as coisas bem e que tudo depende do empenho, vontade e humildade dos fazedores de teatro e da seriedade com que decidem fazer o seu mister.
A peça fala do poder e da sua perpetuação, mas também fala daqueles sobre os quais o poder é exercido e que determinam e sustentam da mesma maneira a hierarquia. O poder não é uma via com um sentido só. O poder é exercido porque há alguém que se sujeita a ele. Para além de ser cíclico. À partida podia ser um tema difícil para os jovens, a complexidade dos conceitos envolvidos permitia que as coisas fossem tratadas com leviandade, incerteza ou gravidade deslocada. Mas estes rapazes e raparigas conseguiram devolver-nos o pensamento do texto teatral com leveza e descontracção de tal maneira claras que tudo parecia fácil.
Foi isto que eu vi na peça de sábado do grupo de jovens de Tondela. Que satisfação e felicidade poder ter na mente a esperança de que aqueles jovens podem um dia vir a iluminar outros com a sua beleza e vitalidade.
Quando o teatro é assim vale mesmo a pena. Obrigado "Na Xina Lua"."


Aqui fica a crítica de Pedro Marques ao trabalho do Na Xina Lua.